Aos 27 anos, o canoísta baiano Isaquias Queiroz já é um dos maiores nomes do esporte olímpico de nosso país. Com o ouro nos Jogos de Tóquio, ele entrou para um seleto grupo de brasileiros com quatro medalhas —que conta também com o nadador Gustavo Borges e o jogador de vôlei Serginho.
Um fato curioso sobre o atleta nascido em Ubaitaba é que ele tem apenas um rim. Isaquias perdeu um dos órgãos aos 10 anos, quando caiu de uma árvore e bateu em uma pedra, sofrendo hemorragia interna. E ele é um ótimo exemplo para mostrar que a condição permite levar uma vida normal.
As quatro medalhas olímpicas no peito (um ouro em Tóquio-2020 e duas pratas e um bronze na Rio-2016) já respondem que a condição não afeta em nada o desempenho na atividade física ou em outras áreas —e o médico João Egídio Romão Júnior, Nefrologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, confirma isso. "Muitas pessoas nascem com apenas um rim e vivem normalmente. Outras perdem um rim devido a traumatismo, como o Isaquias, ou mesmo por terem doado um rim para um transplante renal de uma pessoa querida. Em todos os casos, o órgão remanescente cresce e pode até duplicar sua função para compensar a ausência do outro", diz Romão Júnior.
É preciso algum cuidado especial?
Segundo a médica nefrologista Andrea Pio de Abreu, diretora secretária geral da SBN (Sociedade Brasileira de Nefrologia), uma pessoa com um rim só precisa ter praticamente os mesmos cuidados para manter a saúde que alguém com dois rins: seguir uma boa alimentação —ou seja, evitar o consumo excessivo de sódio, alimentos industrializados, refrigerantes, doces e carboidratos refinados—, não fumar e praticar atividades físicas regularmente (no caso de quem não tem um rim, só não é indicado esportes em que haja risco de traumas que possam lesionar o rim remanescente, como boxe, skate, ginástica olímpica). "O mais importante é ter um estilo de vida saudável, pois isso reduz o risco de diabetes e hipertensão arterial. Essas são as duas maiores causas da epidemia de complicações renais que vivemos hoje e atinge uma cada dez pessoas", afirma a diretora da SBN.
Boa hidratação sempre
Um cuidado importante no caso de quem não tem um rim é que o indivíduo não deve ingerir menos água do que o recomendado. O ideal (para qualquer pessoa, independentemente de se ter um ou dois rins) é beber 35 ml por quilo de peso corporal ao dia. Ou seja, alguém com 70 kg precisa tomar cerca de 2,5 litros de água. Mas essa quantidade pode mudar se estiver frio ou calor, conforme o nível de atividade física e o volume de suor produzido no exercício e no dia a dia. "Uma boa forma de monitorar se o estado de hidratação no organismo está adequado é pela cor da urina, que deve ser amarela clara ou quase transparente, e não sentir sede", diz Andrea Pio.
A nefrologista reforça que a pessoa que tem um rim só não precisa beber mais água do que quem tem dois rins. "Geralmente, há essa percepção, mas o que ocorre é que a população geral não se hidrata corretamente." Atenção com remédios para dor muscular e com lesões A médica nefrologista Maria Letícia Cascelli, diretora da Clínica de Doenças Renais de Brasília, explica que outro cuidado que atletas devem ter para proteger a saúde dos rins é não usar indiscriminadamente anti-inflamatórios não esteroides, geralmente utilizados para aliviar dores pós-treino ou tratar lesões, pois essas substâncias são tóxicas para o órgão.
"Se o uso for necessário por alguém que tem só um rim, é importante fazer isso com acompanhamento médico e por tempo reduzido. Mas o mesmo cuidado vale para quem tem os dois órgãos", diz Maria Letícia.
Em caso de grande trauma muscular, também é preciso supervisão médica para evitar uma doença chamada rabdomiólise. Ela ocorre, pois a ruptura das fibras musculares (causada por lesão ou até mesmo um exercício muito intenso) resulta na liberação de mioglobina (um tipo de proteína), que em excesso no sangue pode danificar os rins. "O problema pode acontecer até mesmo em quem tem dois rins sadios e lesa o órgão ao ponto de ser necessário a pessoa fazer diálise", afirma Maria Letícia.
Fonte: www.uol.com.br/vivabem
Jornalista: Cesar Candido dos Santos