Pessoas predispostas a desenvolver pedras nos rins precisam estar atentas a alguns hábitos que, durante o verão, aumentam o risco desse tipo de problema.
Segundo a SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), a incidência de cálculos urinários que requerem atendimento médico cresce cerca de 30% nesta época do ano, em comparação com outras estações.
Estimativas globais estimam que entre 5% e 15% da população está sujeita a ter cálculos renais ao longo da vida.
A urologista Karin Anzolch, da Comissão de Comunicação da SBU, lista os principais fatores de risco que contribuem para o agravamento ou surgimento dos cálculos urinários.
Falta de hidratação
No calor, em tese, tomamos mais água. Mas a mudança de rotina durante viagens, por exemplo, pode ser suficiente para alterar nossos padrões de ingestão de líquidos, salienta a médica.
"As pessoas têm um hábito de tomar água mais ou menos estabelecido. Quando viajam, elas podem até estar com sede, mas não têm água à disposição ou não se dão ao trabalho de procurar água para ingerir e passam alguns períodos maiores com sede. Isso acaba desequilibrando o organismo."
Um organismo menos hidratado está mais suscetível ao surgimento dos cálculos, acrescenta a médica.
"Se colocarmos uma colher de sopa de açúcar em um copo com bem pouca água e esperarmos alguns dias, veremos que aquele açúcar empedra no fundo e os cristais se grudam. Com o sal é a mesma coisa. Mas, se a gente colocar bastante água, nem vamos mais ver os cristais, eles vão se diluir ali. Isso também ocorre com a urina: quanto mais líquido, mais os cristais se diluem e menos se precipitam e se grudam uns nos outros."
A hidratação diária deve levar em conta cerca de 30 ml por quilo. Dessa forma, uma pessoa de 75 kg precisa ingerir 2,25 litros.
Atividade física e cálculos silenciosos
Também é muito mais comum durante o verão que as pessoas pratiquem mais atividades físicas. É nessas ocasiões que cálculos que estavam silenciosos dentro dos rins podem, com a movimentação do corpo, deslocar-se.
A dor associada à pedra nos rins só vai ser percebida no momento em que a pessoa se movimentar.
"Um cálculo só dói quando obstrui a passagem da urina e os rins se dilatam – a sua cápsula tem bastantes nervos de sensibilidade em volta. Sem obstrução aguda, a pessoa pode até conviver com um cálculo e descobrir isso em um exame de rotina, por exemplo", sublinha Karin.
Consumo de álcool
As confraternizações, férias e viagens fazem com que o consumo de bebidas alcoólicas, principalmente a cerveja, aumente durante o verão.
"Embora seja diurético inicialmente, ele [álcool] tem uma fase final que tira mais líquido do que colocou. A pessoa fica um pouco desidratada no efeito pós", alerta a especialista.
A desidratação provocada pelo álcool, se frequente, também aumenta a possibilidade de o indivíduo desenvolver um cálculo urinário.
Proteína animal e sal
Há dois tipos principais de cálculo renal: o formado por oxalato de cálcio e fosfato de cálcio e o composto de ácido úrico.
A proteína animal, em especial as carnes vermelhas e os miúdos, está associada à formação e liberação de ácido úrico, explica a médica. Essa substância, em excesso, contribui para o desenvolvimento dos cálculos.
A médica ainda aponta outro problema associado ao consumo excessivo de proteína animal.
"No caso da carne, um dos problemas é a formação do íon amônio, que pode ser um núcleo em que depois, a partir dele, outros cristais se grudam na sua periferia, como cristais de cálcio, ácido úrico, fosfato de cálcio..."
O exagero no sal é outro vilão. Ele age como uma espécie de ímã, aproximando os cristais que, posteriormente, vão se solidificar e formar a pedra.
"Se a pessoa já tem predisposição a formar cálculos e cometeu um exagero, por exemplo, agora no fim de ano, é maior ainda a importância de tomar bastante líquido após esses excessos, porque se eventualmente se formam muitos cristais por meio dessas substâncias eles são potencialmente diluíveis antes que se agrupem", orienta.
Bebidas escuras e chocolate
A urologista lembra que há algum tempo médicos costumavam orientar os pacientes com cálculos renais formados por cálcio a cortar, por exemplo, leite e derivados das dietas.
Mas com novas descobertas foi possível identificar que não é o cálcio em si que provoca as pedras, mas outros componentes, como o oxalato e o fosfato.
Os oxalatos estão presentes em alimentos como o chocolate e em bebidas escuras, como café e chá. Já os fosfatos são encontrados nos refrigerantes.
Suplementação de vitaminas
Apesar de não ser um hábito do verão, a suplementação de algumas vitaminas se tornou frequente durante a pandemia. Karin ressalta que o uso inadvertido de vitaminas D e C pode aumentar significativamente o risco de cálculos urinários.
"O excesso de vitamina D pode levar a um aumento da concentração de cálcio na urina, um problema que pode provocar a formação de cálculos. Já a vitamina C acidifica ainda mais a urina. Quem tem propensão à formação de cálculos de ácido úrico pode ter uma piora do problema. O ácido úrico se precipita mais quando a urina está mais ácida."
Qualquer suplementação de vitaminas deve sempre ser feita sob orientação médica. No caso da vitamina D, é comum que o especialista solicite um exame de sangue para saber se há deficiência.
Sinais e tratamentos
A cólica renal clássica é caracterizada por forte dor na região abaixo das costelas, mas ela pode se irradiar para a lateral ou para baixo, a depender do deslocamento do cálculo.
Em uma escala de dores que o ser humano suporta, essa é uma das mais intensas, provocando frequentemente náuseas e vômitos.
Também pode haver aumento da frequência urinária quando o cálculo está próximo à entrada da bexiga.
O sangue na urina pode dar suporte ao diagnóstico, mas nem sempre é visível — se isso ocorrer sem dor, é preciso procurar atendimento médico, já que pode ser um indicativo de outras doenças, como tumor de bexiga.
Mas também há casos de cálculo renal em que a dor não é tão intensa. "Pode até ser confundida com uma dor lombar, um mau jeito", afirma Karin.
Ao chegar ao hospital, um paciente com suspeita de cálculo renal será submetido a exames de imagem como ultrassom ou tomografia computadorizada.
O médico também vai avaliar o tamanho do cálculo – os de até 5 mm normalmente são eliminados de forma espontânea – e se há alguma obstrução que põe em risco a função renal.
"Apesar de às vezes uma cólica ser dramática, se o cálculo é pequeno, a pessoa não está com febre, o estado geral dela é bom e a dor passa com analgésico, ela pode ir para casa e fazer o parto normal, vamos dizer assim, do cálculo. Mas, se ele for maior do que isso ou houver febre ou infecção, aí não dá para aguardar, os rins têm que ser desobstruídos e a pedra removida antes que danifique os rins", diz Karen.
Podem ser prescritos anti-inflamatórios não esteroides para o alívio da dor. O famoso chá de quebra-pedra não faz muito jus ao nome, ressalta a urologista. "É mais preventivo ou ajuda a pedra a descer por estimular a diurese."
Quando há necessidade de alguma intervenção, ela pode ser feita de três formas. Uma delas é a litotripsia por ondas de choque, usada para quebrar cálculos com 1 cm ou menos de diâmetro, presentes na pelve renal ou na parte superior do ureter.
Nesse procedimento, uma máquina direciona ondas de choque que fragmentam o cálculo em pedaços menores.
A nefrolitotomia percutânea serve para remover cálculos maiores. É feita uma incisão nas costas do paciente e inserido um tubo chamado nefroscópio que vai quebrar a pedra e remover os fragmentos.
Um dos métodos mais utilizados é a ureteroscopia, que consiste em um pequeno tubo com uma câmera na ponta inserido por meio da uretra que atravessa a bexiga até o ureter. O cálculo é então quebrado a laser. Tudo é feito com a pessoa anestesiada.
Os únicos cálculos que se pode tentar dissolver com medicamentos são os formados por ácido úrico, acrescenta a especialista.
É importante que após ter cólica renal os pacientes urinem em um filtro e guardem as pedras. Elas são usadas pelo médico posteriormente para identificar a formação.
Com essa informação, o paciente pode adequar o estilo de vida e evitar o desenvolvimento de novos cálculos.
Fonte: https://noticias.r7.com